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O MARCO ZERO, A PRAÇA GENERAL VALADÃO

Quem for para Aracaju

Leve terço para rezar

Que Aracaju é a terra

Onde as almas vão penar

 

As águas de São Cristóvão

Só parecem de cristal

As águas de Aracaju

Só parecem rosargal.

 

Quadrinha popular dos São Cristóvenses, crítica como pode ser vista à Aracaju

Figura 31 – QR Code vinculado ao Marco zero

 

 

      Quem anda hoje pela bela Aracaju não imagina os problemas que ela teve para se afirmar como cidade e capital. A quadrinha popular e bairrista são cristovense mostra a resistência de sua população à Mudança da Capital de Sergipe para Aracaju. Entretanto amigo leitor, a nova capital contava com uma resistência natural, estamos nos referindo as dunas, manguezais, charcos, lagoas que circundavam aquele primeiro núcleo urbano, apresentado a partir da Colina do Santo Antônio.  Era preciso adequar-se à natureza ou suplantá-la, adivinhe qual a escolha dos gestores sergipanos? A mais fácil e danosa, nada sustentável, o projeto Aracaju dá-se em prejuízo da natureza.

      Os primeiros dias da cidade, foram tristes[1], agitados, dias de águas paradas, ruins, fétidas, doentias, a urbe era insalubre, um terreno fértil para epidemias de cólera e malária, eram as “febres” ou o “mal” do Aracaju. Se hoje vemos nas ruas da capital dos sergipanos moradores de rua, pessoas que dormem sob pontes, marquises ou qualquer outra estrutura em que possa proteger-se das intempéries, naquele ano de 1855, pós mudança, há[2] quem afirme que pessoas moravam ao relento, sob ouricurizeiros e cajueiros. Há de considerar que não só a capital esteve de mudança, junto a ela mudaram-se funcionários públicos, de alto e baixo escalão, era preciso acomodar todo esse contingente populacional, a questão era onde? O próprio Presidente de Sergipe relatou[3] que se sentia comovido pela sorte dos empregados públicos, os quais habitavam em pequenos ranchos de palha de coqueiro e feitas de barro. Percebe as dificuldades enfrentadas pelo Dr. Inácio Barbosa? Ele mesmo padeceria delas e perderia sua vida em Estância no dia 06 de outubro de 1855, vítima de malária, doença contraída em Aracaju. O Dr. Barbosa governou nosso Estado por quase dois anos, já no final desse período ele contratou o capitão de Engenheiros Sebastião Pirro para planejar Aracaju.

      A nova capital foi concebida[4] para ser um modelo de cidade portuária, geométrica e arborizada, seria símbolo da ideia de progresso liberal disseminada à época pelo governo imperial. Pirro estruturou a partir de acordo com alguns da atual Praça General Valadão, mais ao Norte do centro, um plano ortogonal, bastante simples com quarteirões e ruas de mesma largura, como podemos ver na imagem abaixo.

      Figura 32 – Praça General Valadão, o Marco Zero

 

 

Fonte: Google Earth

.

            Pirro criou assim um Tabuleiro de xadrez, com[5]  cerca de trinta e duas quadras de 110 x 110 m cada à beira do Rio Sergipe. Desde o mundo romano antigo, tivemos cidades planejadas dessa forma[6]. Elas visavam atender uma função pedagógica, economizar na obra e em sua manutenção posterior, acelerar a mobilidade no centro urbano e controlar os transeuntes. O plano teria sua ortogonalidade rompida com a abertura da rua João Ribeiro, que interliga o Centro Histórico à Colina do Santo Antônio. Pirro delimitou[7] toda a parte onde hoje é o centro de Aracaju, entre a Avenida Barão de Maruim até a Praça General Valadão e desde o Rio Sergipe até a Avenida Pedro Calazans. Vale destacar que não constava no planejamento inicial de Pirro a localização dos edifícios públicos, estes iriam se concentrar nas Praças Fausto Cardoso, Almirante Barroso e Olímpio Campos, nelas uniriam-se as esferas política, administrativa e religiosa de poder.  Essas praças consistiriam[8]

      Em barreiras físicas que separavam no Centro da cidade a zona comercial, da residencial. Conhece essas praças? Veja se consegue identificá-las nos esboços abaixo de uma Aracaju em 1857 e outra em 1865.

 

Figura 33 – Aracaju em fevereiro de 1857

 

Fonte: Revista de Aracaju, nº 2, 1944.

      Figura 34 – Aracaju arruamento em 1865

 

 

 

Fonte: Revista de Aracaju, nº 2, 1944.

      Imagens muito legais não acha? Notou ao compará-las o crescimento da cidade? Encontrou as praças? Elas são descritas no segundo esboço como Praça do Palácio e Praça da Matriz. A nova sede da província[9] desenvolveu-se numa área cheia de lagoas e pântanos, extremamente baixa em relação ao nível do mar, por meio de aterros com material da vizinhaça, as dunas. Entre 1908 e 1930[10] viu-se em Aracaju um período de intenso crescimento e definição da cidade. Nesse momento a cidade cresce em direção ao Rio Sergipe e ao interior do Estado. Serviços de água, esgotos, eletricidade e transporte coletivo à tração animal foram introduzidos. Até 1950 a cidade cresceu sem alterar sua configuração elitizada, os afortunados residiam na restrita área do traçado de Pirro e arredores, enquanto os mais pobres, se estabeleceram na zona oeste e norte. Aracaju segrega-se, a impressão é que existissem[11] várias cidades dentro de uma única, a cidade desenvolvida, a cidade segregada, a cidade dos operários, a cidade dos pescadores etc. A cidade é feita por pessoas, concordam? Seguindo esse pensamento levantamos uma questão, quem é esse homem que ajudou a transformar a cidade de Aracaju?

      Em 1856, a população aracajuana era estimada[12] em 1484 habitantes, no ano de 1872, a população   havia aumentado em cerca de 7 vezes, apresentando um quantitativo de 9.559 moradores, no ano de 1890 esse número já era de 16.336 pessoas. Hoje em dia chegam pessoas dos quatro cantos do Brasil em Aracaju, mas naqueles seus primeiros anos os primeiros migrantes vinham de municípios próximos. Em 1910 a Aracaju ganha uma Estrada de ferro, o que contribuiu para a chegada de novas pessoas na cidade. A população saltaria de 21.132habitantes para 42.469 em 1900. Ao se estabelecerem-na capital, famílias migrantes[13] de diversos cantos do Estado ajudaram com suas experiências etnográficas, seus saberes e fazeres, suas culturas a formar a identidade aracajuana. À qual se mostra[14] hibrida, cosmopolita e relacionada diretamente aos contextos culturais originais daqueles que se dirigiram à capital dos sergipanos.

      Aracaju, cresce, diversifica-se populacionalmente e aos poucos vai deixando de ser uma cidade ribeirinha para assumir conotações marítimas. Hoje a cidade apresenta dois tipos de crescimento, o vertical, vistos nos bairros 13 de Julho, Jardins, Jabotiana etc, e o horizontal, este último se dá ao longo das praias, na denominada Zona de Expansão. Percebem como as cidades são mutáveis? Aracaju não nasce, como a maioria[15]  das cidades, ou seja do crescimento de um povoado, mas de um ato político e administrativo. A ação coordenadora do estado teria continuidade e se mostraria constante em praticamente todo o século XX. O loteamento[16] de terras e a especulação imobiliária, promovidas e incentivadas pelo poder público colaboraram para a definição da atual malha urbana.

      O Centro Histórico encontra-se relativamente abandonado, outrora badalado hoje funciona plenamente em horário comercial, de segunda a sábado, esvaziando-se à noite e aos domingos e feriados.  Os projetos de revitalização não tiveram o resultado esperado, apesar de tudo há naquela região uma riqueza patrimonial e histórica a ser explorada. Caso não conheça, não tem problema, temos um encontro marcado, nos vemos em breve em ambiente virtual, cobre seu professor está bem? Abração!

 

Exercícios de aplicação

1. O quadrinho reproduzido abaixo faz parte do livro Aracaju uma História em Quadrinhos, a cidade que nasceu de um sonho, obra escrita pelo Prof. Itamar Freitas. Ele conta a história da Mudança da Capital de Sergipe, de São Cristóvão para Aracaju, no ano de 1855.  Leia-o e responda os itens abaixo:

 

Figura 35 – Aracaju: uma história em quadrinhos (a cidade que nasceu de um sonho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: FREITAS, Itamar ; OLIVEIRA, Eduardo ; NEUMANN, Thiago . Aracaju: uma história em quadrinhos (a cidade que nasceu de um sonho!!). 2011, p. 18.

Indique e analise criticamente quais foram as providencias mais importantes tomadas pelo Dr. Inácio Barbosa no processo de edificação de Aracaju.

​2. 

Ao se estabelecerem na capital (Aracaju), famílias migrantes (...) se instalaram na cidade que ajudaram a construir. Oriundos de Propriá, Gararu, Porto da Folha, Capela, Maruim, Indiaroba e tantos outros municípios, são grupos que aqui chegaram (Aracaju) em suas experiências etnográficas, fruto do confinamento rural em Sergipe no século XIX.

CARVALHO, Fernando Lins de. O Popular e o Popularesco: perspectivas para Aracaju. Revista de Aracaju -, v. 1, n.10, p. 65, 2003.

O texto acima aborda o processo migratório, visto no século XIX e em todo o século XX, para Aracaju. Tendo-o como ponto de partida e considerando as reflexões levantadas no tópico em questão, faça uma pesquisa sobre as suas origens. Entreviste seus pais, parentes e confeccione sua ÁRVORE GENEALÓGICA, ela falará muito sobre você, afinal, somos resultados das experiências acumuladas pelos nossos antepassados. Veremos em qual geração conseguirá chegar, seus, avós, bisavós, trisavós, tataravós, se interessou? Muito bem, pegue um papel, uma caneta e comece agora mesmo as entrevistar seus parentes, acrescente na árvore genealógica o nome, de preferência acompanhado de uma foto de cada componente familiar, materno e paterno. Não esqueça de consultar o ofício deles e principalmente suas origens. Após a elaboração dessa atividade, compartilhe sua árvore com seus colegas e relate suas experiências com o processo. Mãos à obra!

3. Os mapas abaixo são da planta da cidade de Aracaju, o primeiro foi feito pelo capitão de engenheiros F. Perº. Sª. A partir dele é possível fazer um paralelo de Aracaju entre os anos de 1856 e 1857. Já o segundo é uma Planta da Barra do Rio Cotinguiba, hoje chamado de Sergipe, ele foi produzido em 1875.

 

Figura 36 – Plantas da Cidade do Aracaju em 1856 e 1857

 

 

Fonte: SILVA, F. Pereira da. Planta da cidade de Aracaju: feito pelo capitão d’Engenheiros F. Perº. Sª. 1857.1 mapa ms., aquarelado, 57x67 cm. Escala [ca.1:3.410]. Biblioteca Nacional.

Figura 37 – Planta da Barra do Rio Cotinguiba

 

Fonte: BR RJANRIO 4Y.0.MAP.149. Planta da Barra e do Rio Cotinguiba, cidade de Aracaju, Província de Sergipe. 20/09/1875.

Legenda do 2º mapa

Em Vermelho- Edifícios públicos

Em cinza- Casas

Em Azul- Hotel

 

A partir da análise desses ricos mapas e considerando o que foi estudado, em que aspectos Aracaju foi alterada com a mudança da capital de 1855? Analise as fases e formas do crescimento urbano aracajuano, seu significado e representatividade da cidade na história de Sergipe.

 

Notas:

[1] SILVA, I. E. M.. A bordo da nau do tempo: uma viagem pela história de Aracaju. Revista de Aracaju, v. 1, n.9, p. 131, 2002.

[2] Ibid. p. 131.  

[3] CARDOSO, Amancio. Cidade de palha. Revista de Aracaju, v. 1, n.10, 2003, p. 112.

[4] CARDOSO, Amancio. Aracaju no tempo da cólera. Revista de Aracaju -, v. 1, n.9, 2002, p. 233. 

[5] SOUZA, Fernando Antonio Santos de. Um olhar sobre Aracaju em busca de um novo paradigma urbano in Aracaju: 150 anos de vida urbana. Ara caju:PMA/SEPLAN, 2005, p. 44.

[6] Plano Diretor de Desenvolvimento urbano de Aracaju. Aspectos do Patrimônio Histórico e Cultural. Prefeitura de Aracaju, 2015, p. 07.

[7] CAMPOS, Marcelo Eduardo K.L. D. Pedro nas capitais de Sergipe. Revista do Memorial, nº03, 2013, p.52.

[8] LIMA, Elaine Ferreira . Enobrecimento Urbano e Centralidade: o processo de 'revitalização' do Centro Histórico de Aracaju. Cidades e Patrimônios Culturais: investigações para a iniciação à pesquisa. 1ed.São Cristóvão: Editora UFS, v. 1, 2013, p.25.

[9] SOUZA, Fernando Antonio Santos de. Um olhar sobre Aracaju em busca de um novo paradigma urbano in Aracaju: 150 anos de vida urbana. Ara caju:PMA/SEPLAN, 2005, p. 44.

[10] Ibid., p.45.

[11] CHOU, J. W. T.. Aracaju: imagem, memória e cidadania. Aracaju: 150 anos de vida urbana. 1ed. Aracaju: Prefeitura Municipal de Aracaju/Seplan, v. 01, p. 57, 2005.

[12] CARVALHO, Fernando Lins de. O Popular e o Popularesco: perspectivas para Aracaju. Revista de Aracaju -, v. 1, n.10, p. 64, 2003.

[13] Ibid., p. 65.

[14] Ibid., p. 66.

[15] LIMA, Elaine Ferreira. Enobrecimento Urbano e Centralidade: o processo de 'revitalização' do Centro Histórico de Aracaju. Cidades e Patrimônios Culturais: investigações para a iniciação à pesquisa. 1ed.São Cristóvão: Editora UFS, v. 1, p. 24. 2013.

[16] SOUZA, Fernando Antonio Santos de. Um olhar sobre Aracaju em busca de um novo paradigma urbano in Aracaju: 150 anos de vida urbana, op. cit., p.46.

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Praça Gen ValadãoProfessor Camillo Gustavo
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