A PONTE DO IMPERADOR
“A jóia que enfeita a cidade”
Carlos Ayres Brito
Medina, Ana Maria Fonseca: "Ponte do Imperador", 2ª edição, Gáfica J. Andrade, Aracaju, 2005, contracapa.
Figura 23 – QR Code vinculado à Ponte do Imperador
Aracaju, cidade por muito tempo apenas ribeirinha, teve um dia uma relação mais íntima com o Rio Sergipe. Da Ponte do Imperador, o aracajuano contempla seu rio, sente seu cheiro, sua brisa, porém não mais nele se banha, rema, veleja e se aventura. A construção da balaustrada afastou o povo do rio Sergipe, constituindo uma barreira material que aos poucos foi forjando o imaginário coletivo do morador da capital sergipana, aproximando-o do mar.
A Ponte do Imperador é acima de tudo um monumento, é[1] uma obra de arte e de engenharia, é a grã-fina da cidade. Localizada na avenida Ivo do Prado em frente à Praça Fausto Cardoso. À conhece? Já esteve nela? Como você já deve ter visto, não se trata bem de uma Ponte, pois não estabelece comunicação entre dois pontos por um curso de água ou depressão de um terreno. Trata-se de um ancoradouro, que recebeu inicialmente o codinome de Ponte do desembarque, mas ela foi erguida para quem nela desembarcar? É elementar meu caro leitor, justamente o ilustre imperador D. Pedro II, lá naqueles anos 60 do século XIX. Nessa época[2] o embarque e o desembarque ocorriam nas praias de Aracaju e eram feitos por braços humanos. Tendo como finalidade principal[3] facilitar e abrilhantar a chegada da comitiva imperial, o Presidente de Sergipe Galvão encarregou, em 1859, o engenheiro Pedro Pereira de Andrada a construção de um ancoradouro a ser usado pelo imperador para desembarcar em Aracaju. Nasce ali a Ponte do Imperador[4], uma espécie de porta de entrada da capital, encravada no centro histórico, à beira do estuário do rio Sergipe.
Figura 24 – Ponte do Imperador
Fonte: Acervo particular do autor, Setembro/2019.
A Ponte do Imperador que você vê acima[5], larga, sólida, coberta, na extremidade, por uma grande plataforma de aço e de concreto, é local ameno, propício aos idílios e aos romances. Entretanto nem sempre ela teve essa estrutura, sua primeira versão era de madeira, portanto, completamente diferente da atual, já a segunda foi de ferro, encomendada na Inglaterra naqueles anos de 1910, um pórtico[6] de inspiração medieval, com torreões toscanos que não mais existem. A atual Ponte, a terceira de seu nome, foi erguida nos anos 1920, reformada nos anos 1940 e por fim restaurada em 2004. E se a ponte falasse em leitor? Quantas histórias de crianças e causos de pescadores não nos contaria? Quantas fofocas de casais enamorados ou de bastidores da conturbada política sergipana, ela nos sussurraria?
Ponto de Desembarque[7], Ponte do Governador, Ponte Metálica, Ponte do Presidente e por fim em 1939, via decreto-lei do Interventor Dr. Eronides Carvalho, Ponte do Imperador. Seus nomes modificaram de acordo com os regimes políticos vigentes[8]. Aracaju nasce como cidade em 1855, àquela altura ela não era ainda a capital da qualidade de vida, apresentando, portanto, sérios problemas infraestruturais. Naquele ano de 1860, a situação pouco se alterara e mesmo diante das dificuldades, populares de todos os cantos da província dirigiram-se à capital, buscavam a honra de ver sua alteza imperial e real.
Em 1859 D. Pedro II saiu da então capital do Brasil, o Rio de Janeiro em direção ao[9] Espírito Santo, Bahia, nosso Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
Às 18 horas e trinta minutos do dia 11 de janeiro de 1860[10], no meio de estrepitosos vivas e do ruído de ginrâdolas de fogos, a população esperançosa e contente, apesar da chuva, se acotovelou nas imediações da ponte construída para receber seu imperador. Pedro II[11] trajava o 1º uniforme de Almirante, devia ser encantadoramente branco e a imperatriz trajava um vestido de seda de cor de chumbo, no estilo chinês e bordado. Da Ponte os imperadores e sua comitiva seguiram para a Igreja do Salvador, entre os atuais calçadões da rua Laranjeiras e João Pessoa. D. Pedro II se instalaria no Palácio de Governo e registrara em seu diário uma boa impressão da cidade, disse ele[12]: “Aracaju não feio com seu grande coqueiral defronte na margem esquerda do Cotinguiba”. Antes de partir para São Cristóvão o imperador visitou as obras[13] do novo quartel da tropa de linha, a fonte do Barão de Maruim, o povoado do Sto Antônio e dali avistou as salinas, passou pelo cemitério, o palácio Olímpio Campos em obras, visitou o túmulo de Inácio Barbosa, capitania do Porto, as obras da Alfândega, a Câmara, a Tesouraria da Fazenda, escolas, correio, obras do hospital e da cadeia, repartições do exército, a tipografia e as obras da Companhia de refinação.
No entanto, não somente os imperadores Pedro II e sua esposa desembarcaram com pompas na Ponte do Imperador, outros notáveis também o fizeram[14] é o caso de: Francisco José Alves, o defensor dos escravos; os presidentes de Sergipe Fellisbelo Freire, Martinho Garcez, Gracho Cardoso e Augusto Maynard; os congressistas Fausto Cardoso e Pereira Lobo; O presidente do Brasil entre os anos de 1926 e 1930, Washington Luís. Os desembarques de autoridades na referida Ponte emblematizavam[15] um ritual simbólico da relação do poder/povo e tinham um sentido ideológico profundo, quando reforçavam o prestígio do esperado, através de cerimoniais envolventes e dramáticos divulgados previamente pela imprensa sergipana. A ponte nessas horas[16] funcionava como um prolongamento do espaço de poder, ou seja, uma antessala do Palácio Olímpio Campos.
Figura 25 – Ponte do Imperador
Fonte: Acervo particular do autor, Janeiro/2022.
A Ponte do Imperador também foi e continua sendo usada para fins religiosos, nos dias 01 de janeiro, desde 1857, ocorre a procissão fluvial do Bom Jesus dos Navegantes. Antigamente a imagem, do Bom Jesus, saia da Igreja da Colina do Santo Antônio, atravessava a cidade, chegava na Catedral e de lá era conduzida pelos fiéis católicos até a Ponte do Imperador. Dela, a imagem era[17] embarcada e percorria o estuário do Rio Sergipe, acompanhada de saveiros, lanchas, canoas, proporcionando um belíssimo espetáculo. Diz uma antiga tradição, que essa procissão nasce de uma promessa dos primeiros habitantes de Aracaju após a mudança da capital, quem sabe um dia você não participa dela, independente da religião que professa, certamente teria uma experiência interessante, não acha?
Da Ponte do Imperador também partiam atletas que competiam em regatas. No passado, o remo foi um esporte muito praticado em Aracaju. Competiam nelas agremiações esportivas como o Clube Sportivo Sergipe, o Cotinguiba, o Aracaju e o Brasil. Vê leitor quão simbólica é a Ponte do Imperador? Que você a visite e construa suas experiências, muitos sergipanos e aracajuanos a vivenciaram, chegou a sua vez, sigamos à Ponte!
Exercícios de aplicação
1. O quadrinho reproduzido abaixo faz parte do livro Aracaju uma História em Quadrinhos, a cidade que nasceu de um sonho, obra escrita pelo Prof. Itamar Freitas. Ele conta a história dos primeiros anos da cidade de Aracaju após a mudança da capital de Sergipe. Leia-o e responda:
Figura 26 – Aracaju: uma história em quadrinhos (os primeiros anos da nova cidade)
Fonte: FREITAS, Itamar ; OLIVEIRA, Eduardo ; NEUMANN, Thiago . Aracaju: uma história em quadrinhos (os primeiros anos da nova cidade). 2012, p. 08.
Vamos ajudar o garoto Zeca a compreender melhor a visita de D. Pedro II à capital Sergipana, a bela Aracaju. Pelo que vemos no quadrinho Zeca não tenho maior conhecimento sobre esse fato histórico. Dessa forma, construa um texto endereçado a esse personagem, nele mostre a importância da vinda de D. Pedro II, em 1860, à capital de Sergipe. Aproveite e registre também as críticas que são feitas à passagem do imperador do Brasil por Aracaju.
2. Entreviste, um parente seu idoso, mas também pode ser, um vizinho, ou um conhecido que nascera ou se criara em Aracaju. Pergunte-lhe sobre suas lembranças e vivências na Ponte do Imperador, faça o registro no caderno e posteriormente quando solicitado pelo seu professor, compartilhe sua pesquisa com seus colegas.
Notas:
[1] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju, op. cit., p. 95.
[2] Medina, Ana Maria Fonseca: "Ponte do Imperador", 2ª edição, Gráfica J. Andrade, Aracaju, 2005, pág. 29.
[3] Ibid., pág. 32.
[4] Ibid., pág. 31.
[5] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju, op. cit., p. 95.
[6] MEDINA, Ana Maria Fonseca: "Ponte do Imperador", op. cit., p. 30.
[7] Ibid., p. 31.
[8] Ibid., p. 29.
[9] CAMPOS, Marcelo Eduardo K.L. D. Pedro nas capitais de Sergipe. Revista do Memorial, nº03, 2013, p.47.
[10] Medina, Ana Maria Fonseca: "Ponte do Imperador", op. cit., p. 148.
[11] Ibid., p. 149.
[12] CAMPOS, Marcelo Eduardo K.L. D. Pedro nas capitais de Sergipe, op. cit., p.52.
[13] Ibid., p.58.
[14] MEDINA, Ana Maria Fonseca: "Ponte do Imperador", op. cit., p. 31.
[15] Ibid., p. 107.
[16] Ibid. p. 106.
[17] Ibid., p. 73.



